Demência (ou Transtorno Neurocognitivo Major) é uma síndrome orgânica (conjunto de sintomas) adquirida geralmente crónica, com um aparecimento insidioso e uma evolução lenta e gradual, que surge devido a alterações/doenças nos tecidos cerebrais – neurónios -, sejam estas devidas a processo degenerativos, vasculares ou outros. Caracteriza-se por um declínio progressivo das competências cognitivas/intelectuais (memória, funções executivas, cálculo, orientação, atenção, linguagem, gnosias, praxias), por alterações psicológicas/comportamentais (ansiedade, depressão, delírios, alucinações, insónia, lentificação psicomotora, agitação, confusão, etc.) e por um comprometimento a nível da funcionalidade.
Em conjunto, estas alterações geram incapacidades em realizar as atividades de vida diárias até então desenvolvidas, causando uma progressiva desadaptação do meio com consequentes constrangimentos a nível laboral e social, alterações nas dinâmicas e papéis familiares, e limitações nas tarefas do quotidiano.
Assiste-se, então, a uma perda gradual da independência e da autonomia, que origina uma necessidade da presença, cada vez mais constante de um cuidador que ajude a pessoa a assegurar as suas necessidades básicas, e sobretudo, as necessidades psicossociais (Conforto, Segurança, Identidade, Ocupação, Inclusão e Amor/Afeto).
Existem mais de 100 tipos diferentes de demências diagnosticados até ao momento a nível mundial. Consoante a sua etiologia estas podem distinguir-se entre demências primárias (de natureza neurodegenerativa ou vascular) e demências secundárias (surgem a partir de outra condição médica em geral como HIV, tumores cerebrais, meningites, traumatismos craneoencefálicos, défices vitamínicos, entre outros). As demências primárias têm uma natureza crónica e progressiva, enquanto as demências secundárias, quando diagnosticadas atempadamente e corrigida a sua causa, podem ser revertidas.
Iremos abordar aqui os 4 tipos mais prevalentes na população portuguesa:
É a forma mais prevalente de demência (50-70% dos casos), que se caracteriza pelo surgimento de alterações neuropatológicas e neuroquímicas específicas (placas neuríticas, depósitos de proteína beta-amilóide, emaranhados ou tranças neurofibrilares, aumento da proteína tau), e que origina, num primeiro momento uma afetação a nível da memória e das funções executivas, comprometendo a aprendizagem de novas informações e o raciocínio abstrato/complexo. Com a sua progressão, o comprometimento vai-se estender às demais funções cognitivas gerando desorientação, amnésia, afasia, apraxia, agnosia, disfunção executiva. Numa fase inicial é comum existirem sintomas psicológicos como depressão e ansiedade, e numa fase intermédia os delírios e alucinações, bem como a necessidade de vaguear.
Atinge sobretudo mulheres de idade avançada.
Cerca de 5% dos casos de demência correspondem à Demência de Corpus de Lewy. Como o nome indica, nestes casos a demência é provocada pelo surgimento de depósitos de uma proteína (corpus de Lewy) no interior das células nervosas, do qual resulta a morte neuronal. Esta forma de demência, numa fase inicial caracteriza-se alucinações (geralmente visuais), parkinsonismo (tremores, lentificação e rigidez motora, etc.), alterações a nível do sono REM, sensibilidade grave aos neurolépticos, por momentos de flutuação da atenção e comprometimento executivo. Com a sua evolução, tendencialmente o défice irá generalizar-se às demais funções cognitivas.
A Demência Frontotemporal atinge cerca de 5%-10% dos casos e relaciona-se com a degeneração dos lobos frontal e temporal do cérebro, o que pode ter uma causa espontânea ou hereditária. Atinge sobretudo homens na meia idade (40 – 60 anos), e só cerca de 20% dos casos surgem acima dos 65 anos. Na sua variante frontal, caracteriza-se inicialmente por uma afetação a nível das funções executivas (comprometimento do juízo crítico, do planeamento e organização, dos raciocínios, etc.), e também por modificações severas a nível da personalidade e do comportamento, tais como impulsividade e compulsividade, desinibição, ausência de empatia e aplanamento das emoções, distractibilidade, apatia, entre outras. É comum a perda do interesse por socializar, por assumir responsabilidades, manifestando comportamentos socialmente inadequados e não conseguindo continuar a corresponder aos papéis sociais até aí desenvolvidos.
Na sua variante temporal, a afetação inicial acontece sobretudo a nível da linguagem, gerando dificuldades na comunicação/expressão verbal, produção linguística, afasia e anomia.
A Demência Vascular deve-se à morte do tecido cerebral ocasionada pela redução ou supressão do fornecimento de sangue às estruturas cerebrais. Geralmente são causadas em consequência de AVC (Acidentes Vasculares Cerebrais), AIT (Acidentes Isquémicos Transitórios), Aneurismas, Aterosclerose. Nestes casos as alterações cognitivas e funcionais surgem geralmente de forma aguda, e qualquer função pode ser afetada, consoante o tipo de lesão, a sua localização cerebral e a extensão do dano. A sua progressão poderá ser lenta e ter períodos prolongados de estabilidade das suas capacidades cognitivas e funcionais. Geralmente existe um comprometimento motor associado. A nível psicológico é comum a tendência para um humor depressivo e labilidade emocional numa fase inicial.
Neste momento o número de casos de demência vascular situa-se nos 30%. Apesar de ser um tipo de Demência que, devido à sua natureza vascular, pode ser prevenido (consulte também fatores de risco), vários estudos recentes indicam que o seu número possa continuar a crescer caso os cidadãos não tenham um estilo de vida saudável e preventivo.
Demência é um nome coletivo para síndromes de dano cerebral progressivo que afetam a memória, o pensamento, a personalidade e as emoções. A doença de Alzheimer e a demência vascular são os tipos mais comuns de demência, afetando até 90% das pessoas com demência. Os sintomas podem incluir:
• Perda de memória • Dificuldade em encontrar as palavras certas ou em compreender o que as pessoas estão a dizer • Dificuldade em executar tarefas rotineiras: cozinhar, vestir-se, fazer compras (…) • Alterações da personalidade e mudanças de humor
A demência não conhece fronteiras sociais, económicas ou geográficas. A demência será vivida de forma diferente por cada indivíduo, mas as pessoas afetadas tornar-se-ão gradualmente incapazes de cuidar de si próprias e necessitarão de ajuda nas tarefas essencial da vida quotidiana. Atualmente não existe cura para a maioria dos tipos de demência, há alguns tratamentos ainda que limitados, o que enfatiza a importância dos cuidados, informação, aconselhamento e apoio.
A cada três segundos alguém desenvolve demência no mundo.
Se a 'demência' fosse um país, seria a 18ª maior economia do mundo.
Fatores de risco por si só não representam a causa da doença, mas sim uma maior probabilidade de que possa vir a desenvolver uma demência. Da mesma forma, ter pouca ou nenhuma exposição a fatores de risco, por si só, não protege necessariamente uma pessoa de poder vir a desenvolver uma demência.
Os estudos estão diretamente ligados ao desenvolvimento das funções cerebrais e reserva cognitiva, mas não são só os estudos que contam, pois, a ocupação ao longo da vida é uma importante aliada. Assim, pessoas que se estimulam cognitivamente, ao longo da vida podem estar mais protegidas contra danos cerebrais causados pela demência.
A evidência é forte e consistente de que os fumantes estão em maior risco de desenvolver demência do que não fumantes ou ex-fumantes.
Beber excessivamente (mais de 14 bebidas por semana para mulheres e mais de 21 bebidas por semana para homens) pode representar um fator de risco.
A relação entre poluição do ar e demência ainda não é clara o suficiente. No entanto, estima-se que aqueles que vivem perto de estradas movimentadas tenham um risco maior porque podem estar expostos a níveis mais elevados de poluição do ar por emissões de veículos.
Não praticar exercício físico aumenta a propensão para desenvolver doenças cardíacas, derrames e diabetes, que por sua vez podem ser desencadeantes de quadros de demência.
A atividade física ajuda a bombear sangue para o cérebro, que nutre as células com nutrientes e oxigénio. Além disso, o exercício regular ajuda a reduzir o stresse e melhorar o seu estado de humor, prevenindo por exemplo quadro de depressão.
As pessoas que sofrem ou sofreram de depressão podem ter um risco acrescido de desenvolver demência. No entanto, a relação entre depressão e demência ainda não é clara.
Muitos pesquisas acreditam que a depressão é um fator de risco para demência, enquanto outros referem que pode ser um sintoma precoce da doença, ou ambos.
A obesidade aumenta não só o risco de desenvolver demência, como também aumenta o risco de desenvolver outros fatores como diabetes tipo 2.
Pessoas com diabetes tipo 2 na meia-idade (45 a 65 anos) têm um risco aumentado de desenvolver demência, particularmente a demência de alzheimer e a demência vascular.
Isto acontece porque os mesmos problemas cardiovasculares que aumentam o risco de diabetes tipo 2 também aumentam o risco de demência.
Á semelhança da diabetes, a glicose não é usada adequadamente no cérebro de pessoas com doença de Alzheimer. Isso pode ser causado pela morte das células nervosas, o que reduz a capacidade do cérebro de interpretar mensagens. Já na demência vascular, as células cerebrais morrem devido à falta de oxigénio, impedindo assim a comunicação celular.
As pessoas que têm tendência a tensão alta persistente, na meia-idade (45 a 65 anos) têm mais propensão para desenvolver demência em comparação com as que mantém a sua tensão arterial normal. Isto porque, elevadas tensões arteriais, podem aumentar substancialmente o risco de problemas nas artérias, na circulação sanguínea, podendo culminar em acidentes vascular cerebral e demência vascular.
Lesões traumáticas podem acontecer quando a pessoa sofre uma lesão causada por um objeto externo (algo bate na cabeça), ou mesmo uma queda. Lesões repetidas e/ou graves na cabeça podem causar danos ás células cerebrais e vasos sanguíneos. Como pessoas de risco, temos por exemplo, os atletas de boxe, futebol e hóquei, que muitas vezes apresentam lesões na cabeça repetidas, podendo mais tarde desencadear um processo que leve a demência.
As quedas são a principal causa de lesão cerebral traumáticas, e são especialmente perigosa para os adultos mais velhos.
Níveis leves de perda auditiva aumentam o risco de declínio cognitivo que podem culminar em demência. Embora ainda não esteja claro exatamente como isso afeta o declínio cognitivo, sabe-se de antemão que esta perda pode levar ao isolamento social, perda de independência e problemas nas atividades cotidianas.
O isolamento social pode aumentar o risco de hipertensão, doença cardíaca coronária, depressão e como tal demência.
Permanecer socialmente ativo ajuda a que se estimule positivamente, reforçando o seu bem-estar, e para além disso, retarda a evolução da demência.
Embora a demência não faça parte do envelhecimento normal, com o avançar da idade, também aumenta o risco de vir a desenvolver demência.
O maior risco recai sobre as mulheres, nomeadamente no que respeita á doença de Alzheimer. Embora as razões para isso ainda não sejam claras, algumas das potenciais rações, incluem o facto de as mulheres terem uma esperança média de vida maior do que os homens e mudanças nos níveis de estrogénio ao longo da vida da mulher.
Para outros tipos de demência, homens e mulheres têm o mesmo risco.
Ainda não compreendemos completamente o papel dos genes no desenvolvimento da demência. Sabemos que a maioria dos casos de doença de Alzheimer são esporádicos, o que significa que não ocorrem em famílias. Apenas casos raros de doença de Alzheimer são hereditários ou familiares, representando dois a cinco por cento de todos os casos.
Os cientistas referem mais de 20 genes que podem aumentar o risco de desenvolver a doença de Alzheimer. Três desses genes causam diretamente a doença: PSEN1 , PSEN2 e APP.
Se uma pessoa tiver uma alteração em qualquer um desses genes, quase certamente desenvolverá a doença de Alzheimer, geralmente bem antes dos 65 anos. Se um dos pais tiver algum desses genes defeituosos, os filhos têm 50% de probabilidades de herdar a doença.
Os outros genes associados à doença de Alzheimer aumentam o risco, mas não garantem que a doença se desenvolva.
Outras condições médicas que podem aumentar as probabilidades de desenvolver demência incluem a doença de Parkinson, esclerose múltipla , doença renal crónica e HIV.
A síndrome de Down e algumas outras deficiências de desenvolvimento também podem aumentar o risco de desenvolver demência.
Apesar de muito subtis, em fases precoces da doença, os sinais de alerta são fundamentais para um diagnóstico e uma intervenção atempada. Pode acontecer que a pessoa tenha mais dificuldade em reconhecer em si estes sinais, pela dificuldade de perceção sobre si mesmo. Assim, é de extrema importância que todos tenhamos presentes estes sinais e em que é que estes se expressão.
Para além dos sinais teremos que ter informação acerca de:
• Dificuldades em fixar informação como nomes de pessoas, números de telefone, entre outros;
• Dificuldades em reconhecer caras conhecidas;
• Esquecimento de datas importantes, daquilo que já realizou ou do que tem para realizar;
• Perder ou esquecer-se das coisas com frequência;
• Repetição frequente da mesma questão, ou contar sempre as mesmas situações como se fosse a primeira vez.
Desorientação Temporal
• Não saber a data ou a estação do ano;
• Acordar sem perceber em que parte do dia está.
• Desorientação no espaço
o Esquecer o caminho para casa;
o Perde-se em locais que lhe são familiares, etc.
• Desorientação pessoal
• Perda das suas referências identitárias;
• Esquecer o nome de familiares diretos.
Esquecer o significado do dinheiro.
Irritabilidade (…)
Não querer sair de casa / Isolar-se.
• Esquecimento e substituição de palavras (dar nomes errados às coisas; não encontrar a palavra certa…)
• Dificuldades na compreensão da leitura e na escrita;
• O discurso começa progressivamente a ser mais escasso e pouco coerente; pode existir dificuldades em manter a conversação se a pessoa for interrompida a meio; pode haver repetições da mesma ideia várias vezes na mesma conversa.
• Dificuldade em expressar-se e/ou comunicar
emoções, vontades, ideias...
• Vestir roupa inapropriada para as condições climatéricas, adequadas à época do ano;
• A pessoa apresenta comportamentos inesperados e desadequados perante as situações;
• Não perceber que está a ser enganado/a;
• Tomar sistematicamente decisões erradas e que o/a prejudicam;
• Não reconhecer que tem uma doença aguda e não procurar tratamento;
• Dificuldades em compreender relações de semelhança;
• Interpretação de frases dificultada, como metáforas, ironias, provérbios, etc.
Não conseguir recordar onde poderá ter deixado algo (pensamento retroativo).
Dificuldades na Condução.
O diagnóstico de demência é um processo moroso, exatamente pelas suas semelhanças com as alterações existentes no próprio processo de envelhecimento normal, a sua sintomatologia que pode ser confundida com outras patologias, como por exemplo a depressão ou mesmo pela negação de sintomas.
Existem várias condições médicas para além da demência que podem compartilhar algumas das mesmas características, podendo ser algumas delas, tratáveis e até reversíveis. Então quanto mais cedo for feito o despiste de outras doenças, mais cedo poderá ser feita a sua intervenção e tratamento, com melhores resultado. Aqui podemos incluir algumas como: deficiência de vitamina B12 , hidrocefalia de pressão normal , delírio , problemas de tireóide e depressão.
- Os medicamentos costumam ser mais eficazes no início da doença Quanto mais atempadamente a pessoa for devidamente medicada, melhor o efeito da terapia farmacológica. Isso ocorre porque a sua eficácia é limitada e muitas vezes parece resultar mais ao nível da manutenção do funcionamento atual da pessoa, retardando a evolução da doença, em vez de reverter os sintomas. - Intervenções não farmacológicas também podem retardar a progressão Existem cada vez mais evidências de que outras intervenções para além da medicação, podem ajudar a retardar a progressão da doença, como a estimulação cognitiva, o exercícios físicos, atividades ocupacionais e significativas e muito mais, no entanto, tal como no efeito da medicação, estas terapias irão recair sobre as capacidades cognitivas e funcionais preservadas. Não conseguindo reverter o processo já existente.
Vários medicamentos testados têm como alvo as pessoas que estão nos estágios iniciais da doença. E como tal, muitos estudos clínicos estão abertos apenas a pessoas em estágios iniciais. Alguns exigem mesmo, que a pessoa com demência seja capaz de concordar em participar e demonstrar compreensão do estudo clínico. Um diagnóstico precoce permite que seja elegível para mais estudos/investigações clínicas e tenha maior probabilidade de beneficiar do medicamento ou da abordagem de tratamento.
Um diagnóstico atempado pode permitir a pessoa com demência participe no seu plano de cuidados e intervenção, tomando as decisões sobre seus cuidados e tratamento; gestão financeira; redigir um testamento vital no qual inclui todas as suas vontades e opções, para que quando já não poder decidir, as suas vontades continuem a ser respeitadas e tidas em conta. Obtenha mais informações em:
Após um diagnóstico de demência, os sentimentos podem variar significativamente na pessoa. Algumas pessoas acham que, apesar da dificuldade de perceber que têm esse diagnóstico, é-lhes útil perceber o que está a acontecer consigo, dando um nome aos sintomas que estão a sentir.
Após um diagnóstico, toda a família é implicada, alguns membros da família expressaram sentimentos de culpa após um diagnóstico porque se sentiam frustrados, irritados, mal-humorados com o seu ente querido, sem saber que o seu esquecimento ou comportamentos não foram intencionais. Um diagnóstico precoce para além de ter o potencial de ajudar o cuidador a entender precocemente o seu ente querido, permite a possibilidade de ajuste e capacitação para um melhor apoio à pessoa e a si mesmo.
Permite fornecer tempo para identificar e abordar questões de segurança. Estes podem incluir condução, possíveis erros na toma de medicamentos , desorientação que pode levar a que a pessoa se perca, deambulação que pode levar a quedas se o espaço não estiver adaptado e outros possíveis riscos em casa e no exterior.
Os grupos de apoio podem proporcionar incentivo e educação, tanto para a pessoa que vive com demência quanto para o seu cuidador e família. Pessoas com demência e os seus familiares muitas vezes podem sentir-se isolados e correm o risco desenvolver patologias como depressão. Conectar-se com outras pessoas por meio de grupos de apoio pode permitir que as pessoas compartilhem situações e sugestões específicas e aprender como outras pessoas lidam e se adaptam aos desafios da doença.
Mantendo por mais tempo as suas capacidades inalteradas e retardando a evolução da doença, para que se proporcione a manutenção do seu plano de vida, com as devidas adaptações e ajustes, mas de acordo com a vontade da pessoa.
O primeiro passo é estar alerta para os sinais e algumas alterações que a pessoa pode demostrar, ou que pode identificar em si mesmo, se for o caso.
O segundo passo será tirar as suas dúvidas, não justifique tudo como sendo normal. Procure junto de si onde pode fazer um rastreio cognitivo para despiste, com um técnico especializado para o efeito (psicólogo com especialidade em neuropsicologia) ou vá diretamente ao seu médico de família.
Após a análise de sintomas, poderão ser solicitados exames preliminares e caso haja necessidade, o reencaminhamento para um médico especialista – neurologista ou psiquiatra.
Nesta primeira fase pode deparar-se com alguma resistência por parte da pessoa, nestas situações, não perca a calma, isto pode acontecer, ou porque a pessoa não consegue perceber nada de errado em si, devido ás próprias alterações cerebrais decorrentes pela Demência, que dificultam a que a pessoa reconheça as suas próprias alterações e dificuldades, ou pelo receio do próprio diagnóstico.
Mantenha-se tranquilo e utilize possíveis estratégias, uma delas pode ser encontrar outro motivo para consultar o médico. Reaja o mais normal possível, mantenha uma atitude calma e atenciosa. Se necessário, marque uma consulta no médico e vá você, mesmo que a pessoa não vá consigo, tire as suas dúvidas, exponha o caso.
Com tudo o que ouvimos acerca do prognóstico de demência, pode questionar-se, mas para quê o diagnóstico.
Se não houvesse nada que pudesse ser feito em resposta ao diagnóstico, muitos poderiam defender o adiamento do mesmo pelo maior tempo possível. No entanto, muitas são as razões para procurar o médico o mais atempadamente possível.
Aquando do diagnóstico de demência, é recorrente que, quer o paciente, quer os seus familiares, fiquem confusos, com diversas interrogações acerca do que esperar no presente e no futuro, com necessidade de orientação técnica e informativa para poderem viver com mais serenidade e bem-estar esta etapa de vida. É importante lembrar que este é um percurso que, habitualmente evolui durante anos, pelo que o apoio é fundamental para que, desde o diagnóstico se possa preparar uma jornada entre o paciente e os seus familiares/cuidadores que seja vivenciada com a maior qualidade e desfrute possível. Em primeiro lugar será importante perceber se, na sua comunidade, existe alguma estrutura ou gabinete de apoio destinado a ajudar os cuidadores ou as próprias pessoas com demência. Caso este exista na sua área de residência, consultar estes profissionais poderá proporcionar-lhe um suporte importante, quer a nível técnico, quer emocional/psicológico, quer informativo. Por outro lado, já existem também a nível estatal algumas respostas através dos diversos organismos que visam apoiar as pessoas e as famílias que vivenciam estas doenças, de modo a promover a salvaguarda e a proteção de todos. Encontra seguidamente um breve resumo sobre alguns desses apoios e de diligências que será importante realizar:
O Atestado Médico de Incapacidade Multiuso é um documento que comprova que a pessoa tem uma incapacidade (física ou outra), sendo através dele determinado o grau e a percentagem de incapacidade do utente.
Este Atestado pode ser utilizado para todos os fins legalmente previstos, adquirindo uma função multiuso.
Se for atribuído ao utente um grau de incapacidade igual ou superior a 60%, poderá usufruir dos benefícios para pessoas com deficiência consagrados na legislação vigente. Estes vão desde benefícios fiscais, transporte não urgente a doentes, apoios sociais, atendimento prioritário, isenção do pagamento de taxas moderadoras por incapacidade igual ou superior a 60%. Para tal o utente deverá apresentar nos respetivos serviços o Atestado Médico de Incapacidade Multiuso.
Para obter este atestado, o utente deve:
Uma vez entregue o requerimento, o utente será notificado acerca da data da junta médica.
Aos utentes cuja deficiência ou incapacidade condicionem gravemente a sua deslocação, assiste a possibilidade, ainda que excecional, de um dos elementos da junta médica se deslocar à sua residência para o exame de avaliação da incapacidade.
Mais Informações: https://www.ers.pt/pt/utentes/perguntas-frequentes/faq/obtencao-de-atestado-medico-de-incapacidade-multiuso/
Fonte: Decreto-Lei n.º 202/96, de 23 de outubro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 291/2009, de 12 de outubro.
Este é um regime jurídico que visa proteger os cidadãos maiores (de 18 anos) que necessitam de acompanhamento ou seja, que “não conseguem de um modo consciente e livre, sem apoio ou intervenção de outra pessoa, exercer os seus direitos, cumprir os seus deveres ou cuidar dos seus bens”.
O RJMA tem como o objetivo “preservar a autonomia de que a pessoa ainda dispõe e, dentro do possível, aumentá-la. Nesse sentido, o tribunal, depois de analisar todos os elementos que foram levados ao processo e com o auxílio de informação médica, decide os atos que a pessoa – o acompanhado – pode e deve continuar a praticar livremente e aqueles que, para sua proteção, devem ser praticados por ou com o auxílio de outra pessoa – o acompanhante. Há, porém, certos atos que o acompanhante só poderá praticar depois de obter autorização do tribunal”.
Esta trata-se efetivamente de uma medida importante para que a pessoa possa fazer valer os seus direitos, salvaguardando-a, por exemplo de situações em esteja a tomar decisões importantes que possam por em causa diversos aspetos da sua vida, de uma forma condicionada pela doença. Permite-se assim ao acompanhante que ajude a pessoa naquilo que o tribunal entender ser o necessário para proteger o acompanhado, podendo decidir no melhor interesse deste.
O pedido de acompanhamento pode ser formulado pelo próprio, pelo Ministério Público, pelo cônjuge ou unido de facto, ou por qualquer parente sucessível (pais, filhos, irmãos, tios). Este pedido deve ser realizado no Ministério Público, sediado no tribunal cível mais próximo da sua área de residência, ou também ser pedido através de um advogado.
Fonte: www.justica.gov.pt
Para mais informações consulte:
Sempre que, devido às incapacidades causadas pela demência, esteja comprometido de forma permanente o exercício da sua atividade profissional e que a pessoa ainda não tenha ainda a idade legal para requerer a pensão de velhice (reforma), é importante requerer a pensão de invalidez junto da Segurança Social.
Fonte: Segurança Social
Para mais informações consulte:
É uma prestação em dinheiro atribuída aos cidadãos pensionistas por invalidez, velhice ou sobrevivência, beneficiários da prestação social de inclusão ou portadores de doença suscetível de originar invalidez especial (como é o caso da doença de Alzheimer, doença de Parkinson, ou outras doenças que evoluam rapidamente para uma situação de perda de autonomia com impacto negativo na profissão) e que se encontrem em situação de dependência, precisando da ajuda de outra pessoa para satisfazer as suas necessidades básicas da vida diária como realização dos serviços domésticos, apoio na alimentação, apoio na locomoção, apoio nos cuidados de higiene.
Este apoio deve ser requerido junto da Segurança Social.
Fonte: Segurança Social
Para mais informações:
“O Estatuto do Cuidador Informal (Estatuto), aprovado pela Lei n.º 100/2019, de 6 de setembro, é um conjunto de normas que regula os direitos e deveres do cuidador e da pessoa cuidada e estabelece as respetivas medidas de apoio”.
Este Estatuto pode ser requerido e atribuído ao cônjuge ou unido de facto da pessoa dependente, ou por uma parente ou afim (familiar do cônjuge) até ao quarto grau (primo, tio-avô, sobrinho-neto).
Pessoa dependente é considerada toda aquela que é “titular de complemento por dependência de 2.º grau ou de subsídio por assistência de terceira pessoa, ou titular de complemento por dependência de 1.º grau, desde que se encontre, transitoriamente acamada, ou a necessitar de cuidados permanentes, mediante avaliação específica do sistema de verificação de incapacidades permanentes, da segurança social.”
Os Cuidadores Informais poderão ser considerados Cuidador Informal Principal (alguém que vive com a pessoa dependente e dela cuida permanentemente, não tendo outro trabalho remunerado), ou Cuidador Informal Não Principal, que é a pessoa que acompanha regularmente mas não de modo permanente.
Cada pessoa dependente poderá ter um Cuidador Informal Principal e até três Cuidadores Informais Não Principais.
O presente Estatuto pode ser requerido presencialmente junto da Segurança Social ou online através do site Segurança Social Online.
Para saber mais sobre este Estatuto, as medidas de apoio consignadas, os requisitos e documentos para a candidatura, consulte:
Fontes: Segurança Social, Deco.
Queremos difundir as 5 mensagens principais da Campanha da Alzheimer Portugal “Amigos na Demência” que visa mudar a forma como o nosso país pensa, age e fala sobre a demência.
A campanha integra-se no movimento global Dementia Friends liderado pela Alzheimer’s Society no Reino Unido e conta com a adesão de vários milhões de “Amigos” em diversos países do mundo. Também nós somos amigos na demência! Junte-se a este movimento, seja amigo na demência!
A palavra demência é utilizada para descrever um grupo alargado de sintomas, que podem incluir a perda de memória, dificuldades de raciocínio de resolução de problemas, assim como alterações da linguagem, do humor ou do comportamento.
Estas mudanças são pequenas ao início mas, com o tempo, tornam-se mais graves e prejudicam o dia-a-dia da pessoa com demência.
Existe ainda muito desconhecimento e estigma, associando-se os esquecimentos à idade. No entanto, apesar de afetar sobretudo as pessoas mais velhas, a demência não faz parte do envelhecimento normal. Pessoas mais novas também podem desenvolver demência.
Como qualquer órgão do nosso corpo, o nosso cérebro também pode ser afetado por doenças. Existem mais de 100 tipos de demência. Além da Doença de Alzheimer as mais comuns são a Demência Vascular, a Demência de Corpos de Lewy e a Demência Frontotemporal.
Diferentes tipos de demência afetam o cérebro de formas e ritmos diferentes. Mas há outros aspetos que também influenciam a forma como cada um vive com demência: as suas circunstâncias individuais, as pessoas que as rodeiam e o contexto em que vivem. A demência progride de uma forma única em cada indivíduo.
A dificuldade em memorizar novas informações ou lembrar-se de acontecimentos, pessoas ou tarefas do dia-a-dia é, sem dúvida, o sintoma mais conhecido da demência, e também aquele que é mais facilmente identificado por familiares e amigos numa fase inicial da doença. Mas não é o único.
A pessoa pode ter dificuldade em fazer planos e tomar decisões, trocar o lugar das coisas, não encontrar a palavra certa, não saber o caminho para voltar para casa, ter dificuldades em vestir-se ou cozinhar uma refeição.
A demência pode também afetar a perceção, por exemplo, um chão brilhante pode parecer molhado ou um tapete escuro pode parecer um buraco.
Em suma, qualquer parte do cérebro pode ser afetada pela demência.
As pessoas com demência, em fases iniciais, podem continuar a ser capazes de trabalhar, conduzir e relacionar-se com os outros. O que cada um é capaz de fazer, com que grau de autonomia, e durante quanto tempo, irá variar de pessoa para pessoa.
Viver melhor com demência significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Apesar da demência implicar vários desafios, o importante é criar um ambiente que facilite a ocupação e o lazer, assim como a participação social das pessoas com demência. Essencialmente, aquilo que uma pessoa precisa para viver melhor com demência é de apoio e de compreensão.
Cada pessoa tem uma história de vida, gostos e hábitos que a tornam única.
Os comportamentos de uma pessoa com demência, por muito estranhos ou desadequados que possam parecer, têm uma justificação. O grande desafio está em não julgar a pessoa com demência e tentar compreender o significado das suas ações, pois esta não tem culpa de não se lembrar ou não conseguir expressar aquilo que a pode estar a perturbar.
Uma pessoa com demência é uma pessoa como qualquer outra, por isso, não devemos nunca dizer “doente” ou “demente”, mas sim usar a expressão “pessoa com demência”, pois assim vemos a pessoa em primeiro lugar, não apenas a demência.
É importante uma interação positiva e tranquila, que tenha em conta a vontade e preferências da pessoa: que a faça sentir-se valorizada, feliz e incluída. Um sorriso, um abraço, ou uma conversa pode ser suficiente para melhorar o dia de qualquer pessoa.