O Impacto das Expressões Artísticas na Demência

O Impacto das Expressões Artísticas na Demência

O transtorno neurocognitivo, comumente conhecido como demência, é uma doença neurodegenerativa que afeta não só a memória, mas também outras funções cognitivas. Com o envelhecimento da população, esta condição torna-se cada vez mais prevalente, exigindo uma abordagem abrangente que integre tanto terapêuticas farmacológicas quanto intervenções não farmacológicas para garantir uma melhor qualidade de vida.

É dentro das intervenções não farmacológicas que se pode englobar a arteterapia uma abordagem que utiliza a criação artística como meio de expressão e autoconhecimento, permitindo promover o bem-estar emocional e psicológico. Segundo Margaret Naumburg (1955), pioneira da arteterapia, a arte permite que as pessoas possam conectar a sua mente com o inconsciente.

Diversos estudos têm demonstrado que as intervenções de expressão artística desempenham um papel significativo na melhoria da perceção da qualidade de vida de pessoas com demência. Essas atividades promovem bem-estar emocional, estimulam a interação social ajudando a combater o sentimento de solidão e isolamento frequentemente associado à doença (Soares, B. (2023); Soares, M. (2023)).

Além disso, as intervenções artísticas têm demonstrado impacto positivo na manutenção e melhoria das funções cognitivas. Uma revisão sistemática conduzida por Silva e Almeida (2021) destacou que a arteterapia baseada em processos criativos visuais contribui para a estimulação das capacidades cognitivas de idosos com transtorno neurocognitivo, reforçando sua autonomia e perceção de si mesmos.

De entre as múltiplas formas de expressão artística utilizadas na arteterapia, destacam-se as artes visuais, a música, a dança e o teatro. Estas modalidades transcendem as limitações verbais impostas pela demência, permitindo que os indivíduos se expressem por meios não verbais e reduzindo a frustração associada à perda de linguagem. A exposição a essas formas artísticas também pode contribuir para a redução de sintomas de depressão e ansiedade, frequentemente presentes nesses pacientes (Oliveira & Santos, 2022).

A musicoterapia, em particular, tem sido apontada como uma das intervenções artísticas mais eficazes na doença de Alzheimer. Estudos demonstram que a música pode melhorar a cognição, estimular memórias afetivas, reduzir a apatia e outros sintomas emocional e promover interação social entre os pacientes. A estrutura rítmica da música facilita a reminiscência e a conexão com memórias passadas, promovendo momentos de alegria e redução do stress (Andrew, S. et al., 2007; Cai, Y. et al., 2020; García-Valverde, 2014; Vannay, V., 2022).

No entanto, apesar das evidências positivas, Deshmukh et al., (2018) afirmam ainda existir a necessidade de se realizarem mais estudos robustos que avaliem a eficácia da arteterapia em diferentes contextos e populações.

Assim, a arte emerge como uma ferramenta poderosa na abordagem terapêutica da demência, promovendo não apenas estímulo cognitivo e bem-estar emocional, mas também uma maior conexão social. Diante da crescente prevalência da doença, investir em estratégias terapêuticas inovadoras como a arteterapia pode representar um importante avanço na melhoria da qualidade de vida dos pacientes e seus cuidadores.

 

Maria João Cardoso

Exerce atualmente funções no Centro de Apoio a Pessoas com Alzheimer e outras Demências | Psicóloga Júnior | Mestre em Neuropsicologia Clínica: Avaliação e Reabilitação.